SUL DO EGITO – Sataya, Daedalus e St John’s Reef | Texto e fotos: Kadu Pinheiro

Recifes intocados cheios de vida e de cores; uma imensidão azul que nos reserva grandes encontros

Uma viagem ao Egito é sempre uma experiência exótica e fascinante – mas o Mar Vermelho guarda mais surpresas do que imaginamos. Cousteau, durante seus mergulhos por lá, exclamou: “é um verdadeiro corredor de maravilhas”.

Ter a oportunidade de visitar regiões remotas, quase intocadas, com uma fauna marinha exuberante e diversificada, vale cada centavo e cada gota de suor (e são muitas!) despendidos na empreitada. Nossa expedição se concentrou no Sul do país, ainda menos conhecido pelos brasileiros, tendo como rota os recifes de Daedalus, Sataya, e St John’s: três pérolas com características distintas e mergulhos únicos e incríveis. Saindo do porto de Marsa Alam, rumamos para o paraíso. 

Daedalus Reef (ou “Abu Kizan”, em árabe)

Um velho farol inglês de 30m de altura, construído numa pequena ilha de areia fina, que desponta de uma imensa plataforma de corais, é o único elemento da paisagem em todas as direções. O recife, cuja circunferência supera os 400m, é tão somente a borda da extremidade superior de uma cratera vulcânica, em torno da qual se formou um imenso atol coralíneo.

Os mergulhos podem ser feitos ao longo de toda sua extensão, com a possibilidade de combinar diferentes perfis, observando sempre a movimentação das correntes, que podem ser muito fortes e mudar de uma hora para a outra. É o ponto de mergulho mais oceânico do Egito, no meio do caminho para a Arábia Saudita.

O paredão oeste, recoberto por um tapete de gorgônias, que podem alcançar 3m de altura, desce em diagonal até atingir um platô aos 30 metros de profundidade. Ultrapassando essa formação natural que se estende no azul, pode-se dar início à descida ao longo de uma parede vertical, revestida por uma enorme aglomeração de corais moles, na qual os peixes, com sua riqueza de cores, contrastam com o fundo marinho, onde é possível qualquer tipo de encontro.

O paredão sul, por sua vez, é revestido de corais moles brancos, com uma gigantesca formação calcária recriando uma espécie de paisagem lunar. São muitas as espécies que adotaram esse habitat: uma multidão de peixes tropicais coloridos convivem com cardumes de peixes pelágicos, como barracudas, carangídeos, tubarões de recife, terminando com a imponente presença de tubarões-martelo que surgem inesperadamente do meio do azul.

Em um dos mergulhos, após minutos de espera na imensidão azul dos 35m de profundidade, observei uma grande sombra à distância. Me posicionei de frente para ela, conforme ia ganhando contorno e forma. Mais e mais sombras foram surgindo e, de repente, o vulto deu lugar a um imenso tubarão-martelo. Seguido  por outros 25! O grupo tranquilamente passou bem próximo de mim, para deleite das minhas lentes. Muitas fotos depois e com a certeza de ter vivido um dos mais emocionantes momentos da viagem, voltei à parede do recife para terminar o mergulho em meio à floresta de gorgônias e corais moles.

Sataya Reef (ou Dolphin Reef)

Este recife em forma de ferradura fica em mar aberto, ao nordeste de Ras Banas. A face leste tem um perfil de forte inclinação da parede, dando lugar a uma encosta de areia, repleta de cabeços de coral e pináculos. A parte inferior é pobre em formações. Ao sul, os pináculos são especialmente ricos, com uma grande variedade de tipos de coral mole, e há um conjunto de ânforas aos 10m de profundidade, provenientes de um antigo naufrágio romano datado do século I d.C.

O bom abrigo fornecido pelo recife o torna excelente para pernoite dos live aboards. A maioria dos mergulhos são realizados a partir de botes (zodiacs), que deixam os mergulhadores nos pontos mais distantes e fazem o apoio de superfície, monitorando o grupo e cuidando para que ninguém fique à deriva.

A vida é abundante: cardumes diversos são vistos em grande número, enquanto pequenos peixes residentes, como acarás e borboletas, fornecem um esplendor de cores. Camarões e nudibrânquios são comuns, além das raias pintadas que se movimentam pelo fundo arenoso.

Tubarões de vários tipos também aparecem com frequência, mas as grandes estrelas do ponto, também conhecido por Dolphin Reef, são os golfinhos que normalmente usam a lagoa como área de descanso e reprodução. Grupos enormes podem ser avistados, com fêmeas e seus filhotes. É possível nadar com eles a partir dos botes, apenas com equipamento de mergulho livre. Esse tipo de mergulho requer uma aproximação silenciosa, pois os animais se assustam com facilidade. Uma vez estabelecida uma relação de confiança com o grupo, as interações são impressionantes. 

Pude presenciar um comportamento de acasalamento e fiquei nadando com o grupo por mais de 20 minutos, com vários indivíduos se aproximando e brincando, rodopiando ao meu redor  e me observando com a mesma curiosidade e empolgação que eu estava a observá-los.

St. John’s Reef

Os principais pontos de mergulho nos recifes de St John’s apresentam características peculiares e formações que por si só já são grandes atrativos. Torres coralinas com topos circulares, entrecortados, com passagens, cavernas e entradas de luz que levam uma magia especial ao cenário. E tudo isso com uma vida marinha espetacular.

Além das sensacionais paredes forradas por alcionários e gorgônias, a fauna recifal é riquíssima, esbanjando formas e cores. Destaque para verdadeiros berçários de peixes-palhaço, em pontos como o jardim de anêmonas em Umm Aruk, amistosos e enormes napoleões e duas espécies de peixes-leão. Ainda temos a possibilidade de encontrar tubarões-martelo e tubarões-galha-branca, entre outras espécies de grandes pelágicos como barracudas, atuns e xaréus.

Dangerous Reef

Parte da formação de St. John’s, foi palco de um dos mergulhos mais emocionantes da viagem: um noturno com raias-manta de mais de 3m de envergadura. Foram 20 minutos apreciando o balé de quatro animais, dançando e se alimentando sob as luzes dos mergulhadores.

Como brinde, ao fim do mergulho, dois vultos se aproximam por baixo do barco. Ao iluminarmos na direção, um encontro com dois tubarão-silk, curiosos, que passavam bem perto se afastavam para em seguida darem mais uma volta de reconhecimento.

Em terra

Luxor: um passeio pelas alturas

Que tal sobrevoar o Vale dos Reis com o sol nascendo, dentro de um balão? Indiana Jones? Loucura? Pois foi o que fizemos em nosso intervalo de superfície. A aventura começou às 5h da manhã, quando vans nos levaram até as margens do Nilo; de lá, seguimos em uma faluja (embarcação típica da região) e atravessamos o rio em direção ao Vale, tendo na outra margem o prenúncio do alvorecer banhando o templo de Karnac – uma bela visão para entrar no clima do espetáculo que estava por acontecer. Do outro lado do Nilo, fomos até uma plantação próxima ao Colosso de Menon, onde o balão e a equipe de apoio de terra estavam nos esperando para o embarque. 

Aquele maravilhoso alvorecer com o céu rajado de variados tons de vermelho e laranja, contrastando com o verde da plantação, nos enchia os olhos. Após uma rápida explicação dos procedimentos de vôo e aterrissagem, embarcamos no cesto de um imenso balão. Uma decolagem tão suave que nem percebemos – a altitude chega rápido e o vislumbrar da paisagem nos deixa atônitos e boquiabertos. De um lado, o deserto com a visão de templos, areia e mistério; do outro, o Nilo banhando plantações e com falujas já em plena atividade, singrando suas águas turvas. Uma paisagem fantástica e quase que impossível de ser descrita em palavras.

Após 1 hora de sobrevoo, pousamos em meio a uma plantação já bem afastada das margens do Nilo, para onde a equipe de apoio já estava se dirigindo. Ah, o pouso… bom… o pouso, só estando lá para saber o barato do pouso. Não deixe de fazer esse passeio, só o balão já vale a viagem.

Templos de Luxor e Karnac

Os templos de Luxor e Karnac são imperdíveis; a jornada fica completa com uma visita ao Vale dos Reis, Templo da Rainha Hatshepsut e Colosso de Mennon.

Cairo

Em Cairo, não deixe de visitar as Pirâmides e o Museu do Cairo, e quem sabe uma parada para tomar um tradicional café egípcio e um narguilé no mercado Khan el Khalili. Um programa mais romântico e não menos divertido é um jantar flutuante nas águas do Nilo, ao som de tradicionais shows com dançarinas do ventre. Outro programa icônico é o jantar no restaurante giratório da cobertura do hotel Hayat, com vista para a cidade – e depois você ainda pode badalar no Hard Rock Café no subsolo.

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