Há muito tempo, planejava um mergulho para uma matéria na Mina da Passagem em Mariana,  não foi por falta de convites do amigo Romeu Dib, e por incrível que pareça, já tendo mergulhado em cavernas em diversos lugares do mundo, ainda não tinha tido a oportunidade de mergulhar e conhecer a tão famosa “escola de caverna” do Brasil, pois hoje com a proibição do mergulho na maioria de nossas cavernas, a mina virou o ponto preferido para executar treinamento e turismo de cavernas em terras tupiniquins.

Confesso que não esperava grande coisa em termos de água e atrativos, nunca tinha visto fotos interessantes da mina, e pensava que teria um baita trabalho para fazer algumas boas imagens.

O visual da mina me fascinou logo de cara e toda sua história e singularidade me cativaram, espero poder voltar com calma para usufruir de mergulhos mais longos com a única e exclusiva finalidade de fotografar e registrar melhor esse lugar mágico.  

Um pouco sobre a Mina

A Mina da Passagem, em Mariana / MG, fica a 100 km de Belo Horizonte, a 450 km do Rio de Janeiro e a 600 km de São Paulo. Essa antiga mina de ouro começou a ser explorada no século XVII e está desativada desde o início dos anos 80. Com o fim da atividade de mineração a mesma foi preparada para a visitação turística. 

O passeio começa na entrada da Mina, onde o turista embarca em um carrinho sobre trilhos (trolley), que se movimenta graças a uma máquina pneumática com quase 200 anos de idade. O carrinho percorre um trajeto de 315 metros e leva o turista a uma profundidade de 120 metros, onde o mesmo desembarca e, acompanhado de guias especializados, pode visitar as galerias e túneis escavados, conhecer o processo de extração, transporte e beneficiamento do ouro, e ouvir algumas das histórias que abundam na região. 

A freqüência de turistas vindos do mundo todo impressiona: nos meses de alta temporada (julho, dezembro e janeiro) a mina recebe cerca de 6000 visitantes a cada mês.

Como toda e qualquer mina desativada, a Mina da Passagem encontra-se parcialmente alagada. A maior parte de sua extensão está coberta por uma água cristalina, com uma impressionante coloração azulada. Desde o lago, cujo nível está 120 metros abaixo da terra (no local de visitação turística), até o fundo da mina são 240 metros de profundidade, repletos de túneis e galerias que formam um labirinto submerso.

Um relato do primeiro mergulho, por Romeu Dib:

O mergulho na Mina da Passagem começou a ser praticado em 1998. Por essa época, estávamos empenhados em uma busca por lugares próximos a Belo Horizonte, onde pudéssemos praticar nossa atividade. Através de um amigo, ouvi falar pela primeira vez da Mina da Passagem. Na verdade, já sabíamos da existência da famosa Mina de Ouro de Mariana – MG, porém a novidade era a presença de água no seu interior.

No primeiro final de semana, carregamos o carro com cilindros e demais acessórios de mergulho e partimos bem cedo para percorrer os 110 Km que separam Mariana da capital mineira. Chegamos à portaria da Mina e resolvemos descer primeiro para ver o que nos esperava lá em baixo, antes de começarmos a carregar toda aquela tralha para um mergulho que poderia nem vir a acontecer.

Na “boca da Mina” nos deparamos pela primeira vez com o trolley (carrinho que outrora transportava os mineiros e que atualmente transporta os turistas para o interior da Mina) e percebemos que a aventura seria bem melhor que o esperado.

Uma vez dentro da Mina, corremos até a margem do lago, para finalmente olhar pela primeira vez para as águas cristalinas que inundam a Mina da Passagem. Imaginem a emoção e alegria que nos contagiaram ao presenciarmos pela primeira vez aquela cena. A água cristalina refletindo as paredes e o teto de rocha sob o brilho das lâmpadas amareladas criava uma atmosfera mágica e surreal.

Voltamos para a superfície, onde conseguimos do gerente a tão ansiada autorização para o mergulho. Descemos o equipamento, montamos tudo rapidamente e logo entramos na água. 

Nosso treinamento, então limitado aos mergulhos em águas abertas, somente nos permitiu descer até o fundo do lago da entrada, a uma profundidade máxima de oito metros. Sem poder entrar nos túneis fechados, que se iniciam naquele ponto, fizemos meia volta em direção à saída para nos depararmos com mais uma cena fantástica: lá do fundo do lago, olhando para cima, em direção à superfície, as colunas de pedra formam uma moldura para uma tela de luz azulada. Quem já viu sabe que é de tirar o fôlego!

O Início da exploração:

Logo a notícia se espalhou. Tanto que, poucos dias depois, alguns mergulhadores do Rio de Janeiro, já com o devido treinamento para o mergulho em cavernas, começaram a explorar e cabear os túneis mais afastados da entrada.

Nossa equipe logo se mobilizou: cada um se virando para fazer o curso de mergulho em cavernas o quanto antes e para adquirir e configurar adequadamente seu equipamento. Em pouco tempo, já tínhamos condições de continuar a exploração da Mina, iniciada por nossos amigos cariocas.

O próximo passo seria garantir nosso acesso ao local. Para tanto, entrei em contato com os proprietários da Mina, que gentilmente me franquearam a exploração da atividade de mergulho no local.

A Divegold:

Nascia ali a Divegold, empresa criada para a condução das operações de mergulho no interior da Mina da Passagem. Começamos logo a estruturar o local: construindo o deck de equipagem, reforçando a iluminação próxima à água, construindo a base de recargas e guarda de equipamentos e, principalmente, explorando e cabeando os túneis. Logo apareceu a primeira turma, e a segunda, e assim sucessivamente. A atividade prosperou no início e, após um período de dois anos de paralisação, firmou-se novamente e assim se mantém até o presente.

O mergulho na Mina:

O mergulho na Mina é considerado um mergulho em altitude, uma vez que essa se encontra a cerca de 900 metros acima do nível do mar. A água é cristalina (a visibilidade chega a 50 metros) com temperatura constante de 21 graus centígrados. 

Não existe nenhum tipo de vida nas águas da Mina, uma vez que esse é um local artificial. Faça chuva ou sol, as condições do mergulho são sempre as mesmas. Existe um fluxo de água mínimo, que é imperceptível, mas que basta para reciclar a água. O sedimento é classificado como lodo (ou lama) e se assenta com relativa rapidez depois de revolvido. A profundidade chega a 240 metros (alagados), porém a maioria dos mergulhos é feita até os 21 metros, sendo que a profundidade máxima até o momento é de 74 metros. A maior penetração já alcançada é de cerca de 2.000 metros.

Atualmente existem mais de 10 km de cabos já colocados na Mina. Esse cabeamento segue o protocolo internacional de mergulho em cavernas, que prevê o uso de cabos mais espessos (3,5 mm) na cor amarela nos túneis que levam à saída, além de cabos mais finos (2 mm) na cor branca em túneis que derivam dos principais (não levam a nenhuma saída). Existem ainda setas nos cabos a cada 10 metros onde a direção e a distância da saída estão definidos. Existem quatro circuitos distintos que se comunicam com a saída, cada um levando a outros túneis mais internos, que por sua vez chegam às partes mais distantes da Mina. A exploração de novos túneis, apesar de cada vez mais difícil devido às grandes distâncias, continua.

HISTÓRICO DA MINA DA PASSAGEM

Data do século XVIII a descoberta do ouro em Passagem. Os bandeirantes, percorrendo os cursos d’água da bacia do Rio Doce, atingiram o Ribeirão do Carmo, no qual localizaram Ouro aluvionar abundante. Subindo o Ribeirão, em típica prospecção por bateia, descobriram em 1719 as jazidas primárias de Passagem. Ao mesmo tempo, pela bacia do São Francisco, subindo o Rio das Velhas, outros bandeirantes, entre eles Borba Gato e Antônio Dias, chegaram à região de Ouro Preto.

De 1729 a 1756, vários mineiros obtiveram concessões para exploração das jazidas. Com o passar dos anos, reduziram-se a um único. Após sua morte, seus herdeiros transferiram a mina, a 12 de março de 1819, ao Barão W.L. Von Eschwege.

Os trabalhos, até então, concentravam-se no Morro de Santo Antônio e eram executados por mão-de-obra servil, a céu-aberto ou mediante pequenos serviços subterrâneos assistemáticos. Recuperava-se o Ouro contido nos Iabirintos, na Jacutinga e na canga Ferro-Aurífera. Segundo a tradição, povoaram as senzalas do Morro de Santo Antônio, 35.000 escravos. As ruínas ainda lá existentes testemunham esse remoto passado.

Remonta a essa época, a origem da lenda do “menino de couro. Poços verticais, em grande número, ainda lá encontrados, ocultos pela vegetação rasteira, eram progressiva e lentamente escavados pelos curumins negros, o suficiente para deixar passar apertado o pequeno corpo. Iam à procura do veio aurífero e neste, da salbanda, espécie de camada intermediária, de fraca consistência, escavável mesmo à mão, e muito rica em Ouro, chegando a atingir 200 g por tonelada de minério.

Levavam consigo, esses pequenos escravos, uma bolsa de couro para o transporte do material que suas frágeis mãos retiravam à superfície. Daí o nome, que os mineiros passaram a atribuir à própria salbanda. Diz a lenda que muito ouro saiu de Santo Antônio por esse processo e que muitos desses garotos jazem no fundo dos poços.

Eschwege formou a primeira empresa mineradora do Brasil, sob o nome de Sociedade Mineralógica de Passagem. Construiu o engenho, com dez pilões californianos, ainda hoje em atividade, e estabeleceu o primeiro plano de lavra subterrânea que, com aperfeiçoamento no correr dos anos, ainda é utilizado, sob elogios gerais.

Somente após o ano de 1800 é que se descobriu o ouro nos Quartzitos, nos xistos grafitosos e nos dolomitos, dando novo rumo à exploração de jazidas.
Após anos de prosperidade, o Barão de Eschwege, atraído por novas atividades na siderurgia pioneira, desinteressou-se da mineração do ouro. A Sociedade Mineralógica passou, a 1º de junho de 1859, às mãos do mineiro inglês Thomas Bawden.

Este, depois de trabalhar quatro anos, revendeu-a , a 26 de novembro de 1863, a Thomas Treolar, representante da nova empresa em formação, a “Anglo Brazilian Gold Mining Company Limited”, que encampou a Sociedade Mineralógica de Passagem.

A “Anglo Brazilian” adquiriu diversas concessões vizinhas, como Paredão e Mata Cavalos e trabalhou as jazidas de 1864 a 1873, produzindo 753.501 gramas de ouro ao teor médio de 6,89 gramas por tonelada de minério.

De 1874 a 1883, a mina esteve paralisada. A 24 de março de 1883, foi vendida a um sindicato francês, que constituiu a “The Ouro Preto Gold Mines of Brazil Limited”. A nova empresa operou com grande sucesso até março de 1927, quando foi vendida ao Grupo Ferreira Guimarães, banqueiros de Minas Gerais, e transformada, em maio do mesmo ano, na atual Companhia Minas da Passagem.

A Companhia Minas da Passagem operou regularmente até 1954. De então, até 1960, esteve paralisada. Tentativas de reabertura, de 1959 a 1966, resultaram infrutíferas. 

De 1967 a 1973, novamente paralisada. A 19 de dezembro de 1973, o Grupo da Companhia Anglo Brasileira de Construções adquiriu o controle acionário da Companhia Minas da Passagem, sem ter tido sucesso nas tentativas, então desordenadas, de desenvolver o empreendimento.

Em setembro de 1976, os então majoritários, reconhecendo o insucesso de suas tentativas, instaram com o Dr. Walter Rodrigues, no sentido de que este assumisse o controle acionário, bem como organizasse administrativamente a empresa.

De então para cá, a empresa foi saneada financeiramente e ordenada administrativamente, encontrando-se hoje, depois de esforços e lutas, em posição equilibrada e próspera.

A mineração de ouro se tornou inviável, porém a Mina da Passagem estava fadada ao sucesso com a exploração de um novo filão: o turismo. A mina foi aberta à visitação, proporcionando aos turistas do mundo todo, que chegam em grande número, a oportunidade única de ver de perto os resquícios do passado histórico e glorioso de Minas Gerais.

O passeio pelo seu interior é curto mas nem por isso as emoções são pequenas. Logo na entrada da mina, a primeira surpresa. Os visitantes são acomodados em uma vagoneta sobre trilhos – o mesmo veículo utilizado pelos mineradores desde a fundação da mina, no século passado. A descida até a entrada é íngreme e emoldurada por vegetação densa. O Carrinho desce lentamente, levado por um cabo de aço movido por ar comprimido.

Depois de três minutos de descida, começam as andanças pelos onze quilômetros quadrados da mina aberta à visitação. Lá embaixo, os guias orientam as visitas, revelando curiosidades. “Para conseguir de 12 a 30 gramas de ouro, era preciso retirar mil quilos de pedras do interior da mina”, conta o guia Antônio Jacinto Sena.

Ele aponta para restos de exploração. Como os pilares de quartzito, que ainda sustentam toda a mina, no interior da mina, é possível encontrar cenas ainda mais curiosas. Em uma piscina, formada pela infiltração da água de galerias subterrâneas, a imaginação voa alto. A água cristalina e parada cria a ilusão de que o teto está unido ao fundo da piscina. No reflexo as formações rochosas ficam anda mais interessantes.

Para o turista comum, a visitação termina ali, às margens do lago. Porém o mergulhador de cavernas pode ser tudo, menos convencional. Bastou que estes conhecessem o lago submerso para iniciarem sua exploração. Esta resultou em quilômetros de túneis cabeados.

No fundo do lago é possível encontrar resquícios históricos congelados pelo tempo. Carrinhos, picaretas, latrinas, caixas de dinamite e os mais diversos artefatos repousam tranquilos nas galerias que se estendem a uma profundidade de até 240 metros. “A maioria dos mergulhos é feita até 21 metros”, esclarece Dib, que já explorou o local a 90 metros. Os mergulhos – assim como os que ocorrem em cavernas – exigem técnica e equipamentos apropriados. “Muitas vezes fazemos uma curva e entramos em uma escuridão profunda”, diz. A água é cristalina, com visibilidade de até 50 metros, e tem sempre a temperatura constante de 21 graus. Por causa do ambiente subterrâneo, não há nenhum tipo de vida. 

A DIVEGOLD adquiriu a concessão da exploração do mergulho na Mina da Passagem em julho de 1999, desde então sua equipe de mergulhadores  trabalhou pesado de forma a estruturá-la para o mergulho turístico.

Lendas:

Reza a lenda, que no dia 14 de Dezembro de 1936, uma inundação matou 17 trabalhadores na Mina da Passagem, e depois dessa data, muitas pessoas afirmam que o lugar nunca mais foi o mesmo. Um antigo funcionário da mina, assim como um geólogo, acreditam ter testemunhado aparições do Capitão Jack (um cavaleiro inglês, todo de branco que passa cavalgando e disparando luzes na mina) além do barulho de um sino quando não havia mais ninguém dentro da mina.

Onde ficar – Pousada da Serrinha

A Divegold trabalha em parceria com a Pousada da Serrinha, que é considerada por nossa equipe como a melhor opção de hospedagem em Mariana. Localizada bem próximo à Mina da Passagem, essa charmosa pousada possui diversos apartamentos confortáveis, distribuídos em três andares de um charmoso casarão colonial. Nesse lugar extremamente agradável ainda se consegue apreciar as delícias de um café da manhã mineiro tradicional e da também tradicional arte mineira de receber bem.

As reservas podem ser feitas diretamente na pousada ou através da Divegold.

www.divegold.com.br

  • Tel.: 55 (31) 99910-9297 
  • email: divegoldrd@gmail.com
  • Pousada da Serrinha
  • Rua do Hospital, 370 – Passagem de Mariana
  • Mariana/MG – 35420-000
  • Tel.: 55 (31) 3557-5071 / 8643-1308
  • pousada@pousadadaserrinha.com.br
  • www.pousadadaserrinha.com.br

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