Texto e fotos: Kadu Pinheiro

A Ilha de Bali e seus templos são cercados de misticismo e magia devido a devoção de seu povo por sua religião. O Hinduísmo, que atualmente está presente somente nessa região da Indonésia, veio da cultura trazida pela junção de povos indígenas e indianos. Quando foi colonizada pela Alemanha, na metade do século passado, os europeus ficaram tão fascinados com o que encontraram que fizeram grandes esforços para preservar a cultura tradicional da ilha.

Tão longe, tão Bali

Aventura inesquecível na ilha dos mil templos e dos mil pontos de mergulhos

A primeira vez na Indonésia é inesquecível! Uma experiência surreal, diferente de tudo que já havia vivido… são tantas ilhas e tantos lugares para se conhecer, que é como se estivéssemos em outro planeta. Um lado do mundo que eu sempre sonhei visitar.

Minha viagem começou em Bali, onde explorei alguns dos mais icônicos pontos de mergulho. Foram poucos e intensos dias, contando com o profissionalismo dos amigos da Dive Trek, em Amed, leste da ilha, que me levou para conhecer os tesouros que aquelas águas turquesa abrigam.

Bali está dentro do chamado Triângulo de Coral, uma área marítima de elevadíssima biodiversidade, onde se encontram mais de mais de 500 espécies de coral (76% do número conhecido mundialmente) e 3 mil de peixes.

A Ilha dos Deuses

Bali é uma das 13.667 ilhas – cerca de 6 mil delas são habitadas – que compõe a Indonésia. A capital é Denpasar, onde se localiza o aeroporto internacional. Principal destino turístico do país, a ilha é conhecida por seus milhares de templos indhu-dharma – espécie de fusão do hinduísmo com o budismo e as tradições locais – e suas ricas manifestações culturais, que dão um colorido especial à ilha. 

Apesar de a Indonésia ser o maior país muçulmano do mundo (cerca de 90% dos 250 milhões de habitantes praticam o islamismo), Bali é a única ilha que tem o hinduísmo como religião, abrigando quase que a totalidade da pequena população hindu do país. Mas o hinduísmo balinês é bem diferente daquele praticado na Índia, fruto do isolamento geográfico. As passagens e personagens dos textos sagrados ganharam importância diferente em Bali: por exemplo, o livro sagrado Ramayana e a ave mítica Garuda, no dorso da qual Shiva voa pelos céus, são de grande relevância – inclusive, é esse animal que dá nome à companhia aérea mais conhecida da Indonésia.

Bali é densamente povoada, com aproximadamente 4,2 milhões de habitantes em uma área de 5.780 km². A grande maioria é bilíngue (fala balinês e indonésio), e boa parte é trilíngue, conseguindo se comunicar também em inglês ou chinês. O trânsito é desregrado, marcado pelo enxame de motocicletas de baixa cilindrada. O povo é espiritualizado, sorridente e extremamente receptivo aos turistas, em uma cultura de subserviência aos ocidentais que revela uma longa história de opressão e dominação europeia no país.

O forte turismo leva contrastes à ilha: restaurantes de grande redes norte-americanas em meio a pequenos estabelecimentos de comidas típicas; lojas de grife ao lado de artesanatos locais (pincipalmente vestuário em batique e ikat, peças em madeira e pedra esculpida e joalheria de prata). A dança, a pintura, a escultura são manifestações quotidianas da alma do povo balinês. A arte é ofício exclusivo de alguns mas é praticada por todos, nos tempos livres do trabalho na agricultura ou no turismo.

Gigante adormecido

O interior é mais calmo e tradicional, com relevo super montanhoso, incluindo vulcões ativos. O ponto mais alto da ilha é o vulcão Gunung Agung (3.140 m), a leste, local sagrado de morada dos deuses hindus. Infindos arrozais complementam a paisagem, utilizando o sistema de irrigação subak, Patrimônio Mundial da Unesco. Belíssimas imagens que grudam na retina de qualquer visitante.

Aos pés desse vulcão está a região onde ficamos hospedados, Amed, uma vila de pescadores que agora está se desenvolvendo com o turismo, mas ainda guarda as tradições e os ares de paraíso escondido. Aos poucos, tem se tornado um destino mais conhecido, principalmente entre mergulhadores livres e autônomos e praticantes de yoga.

A última grande erupção do Gunung Agung foi em 1963, matando milhares de pessoas. Ele voltou a despertar em setembro de 2017, mantendo-se ativo desde então, ainda com risco de erupção. Durante nossa estadia, presenciamos atividade, com bastante fumaça. Mas são justamente os vulcões que levam grande fertilidade à ilha. O rico solo, associado ao subak, faz de Bali um dos locais com maior produtividade no cultivo de arroz no mundo – o único onde há três colheitas anuais.

Naufrágio, macro e gigantes

Aproveitamos cada minuto de nossa curta passagem por Bali. Mal chegamos ao nosso refúgio em Amed – após um transfer de 2h30 desde o aeroporto – e já caímos na água. Um super mergulho noturno, cheio de vida e de cores, no naufrágio mais legal da ilha: o USAT Liberty, um cargueiro norte-americano que serviu na Primeira e na Segunda Guerras e foi torpedeado por um submarino japonês I-166, em 1942.

Após ser atingido, à sudoeste do Estreito de Lombok, o Liberty foi rebocado por um destróier americano e um destróier holandês, na tentativa de levá-lo até Singaraja (porto holandês ao norte de Bali) para reparos. Mas o plano não deu certo: com muita água entrando no navio, ele teve de ser encalhado na praia de Tulamben, para que a carga de peças de estrada de ferro e borracha fosse salva. E lá ele permaneceu, na areia da praia, até 1963, quando tremores associados à grande erupção do vulcão Agung o empurraram para a água, para alegria dos mergulhadores. O naufrágio tem 125m de comprimento, indo dos 9m aos 33m de profundidade.

A vida marinha no leste de Bali é vasta, de minúsculos cavalos marinhos pigmeus de menos de 1cm até grandes mola-molas. O destaque deste mergulho foram os peixe-papagaio gigante (Bolbometopon muricatum ou humphead parrotfish), que se abrigam dentro do naufrágio à noite. Eles chegam a 1,2m de comprimento e pesam até 46 kg, e andam em grandes grupos de até 70 peixes.

A presença do vulcão criou um fundo do mar de pedras lisas, arredondadas e negras. O relevo acidentado faz com que, a poucas centenas de metros da praia, um abismo se abra. Um parque de diversões para mergulhadores – ainda mais com água quentinha (28ºC).

Pausa para dormir e se preparar para o segundo dia, lotado de mergulhos. Pela manhã, embarcações locais bem típicas nos levaram para dois drifts sensacionais. Mergulho fácil e cheio de vida. À tarde, um ponto chamado “macro site” – nome bem sugestivo, já que o local impressiona pela quantidade de minúsculas criaturas, pequenos caranguejos de diversas cores e formatos, dezenas de espécies de nudibrânquios e uma variedade enorme de pequenas criaturas que eu nunca havia visto ou registrado. Um mergulho foi muito pouco.

No terceiro dia, acordamos bem cedo para o ponto alto de toda a viagem: o Manta Point. Fomos até Nusa Penida, pequena ilha vizinha a Bali, para mergulhar com as Manta alfredi. O ponto é um recife usado como estação de limpeza por mantas e mola-molas, onde centenas de peixes menores se reúnem, como bodiões e peixes-anjo, para se alimentar de parasitas dos bichões. Entre maio e outubro, os peixes-lua, ou mola-mola, também aparecem por lá, infelizmente não os encontramos.

Ao longo da costa acidentada de Nusa Penida, há falésias gigantes onde quebram  ondas de alturas alucinantes. Pontilhada por várias enseadas e rochas que formando arcos, a paisagem é belíssima. A água é um pouco mais fria em Nusa Penida, recomendo uma roupa de 5mm, e o mar mais agitado – para quem enjoa, é bom se medicar.

No Manta Point, os mergulhadores são empurrados e puxados repetidas vezes pelo refluxo em direção aos paredões. O segredo é não brigar contra a correnteza. Escolha uma profundidade de flutuação e fique planando ao sabor das águas, seguindo o balé das mantas que docilmente passam por cima, por baixo e ao seu lado.

Mergulhar com mantas é sempre um momento especial. Nadar próximo de animais tão grandes (3m a 5m de envergadura) e ao mesmo tempo graciosos, admirando a beleza com que voam pela água e docilidade com que interagem conosco, é emocionante. Inofensivas e majestosas, as mantas não enxergam muito bem e muitas vezes acabam por esbarrar em você. Fomos agraciados nesse dia com mais de 20 animais diferentes.

O ponto pode estar cheio de mergulhadores e de barcos de passeio, com turistas fazendo snorkeling, mas vale a muvuca. Encerramos o dia fazendo um drift em Nusa, recheado de tartarugas e muita vida colorida.

Água sagrada

Com a agenda de mergulho apertada, nos sobrou pouco tempo para explorar a terra fértil e as tradições de Bali. Tivemos a oportunidade de ir até Tirta Gangga, o Palácio das Águas. No extremo leste da ilha, em meio aos campos de arroz e longe dos centros turísticos, é um belíssimo complexo de jardins, lagos e esculturas, erguido em 1946 pelo Rei de Karangasem. Duas das piscinas são abertas para os visitantes se banharem.

O Palácio foi totalmente destruído na erupção do vulcão Agung de 1963, e cuidadosamente restaurado. A parte mais bonita é um lago, habitado por um cardume enorme de carpas coloridas e rodeado por esculturas de divindades do hinduísmo balinês, com uma enorme fonte de 11 níveis no centro. Tirta Gangga significa água do Ganges, o rio sagrado dos hindus.

A entrada custa Rp 10.000 por pessoa, e há um adicional de Rp 10.000 para se nadar nas piscinas. Guarde pelo menos uma hora para passear por todo o complexo, que não costuma receber muitos turistas.

O que saber antes de ir

Clima

Bali, como outros países da região, tem regime de monção com fortes chuvas de novembro a março. Como se situa próximo ao equador, tem somente duas estações: quente e seca e quente e chuvosa. A temperatura média anual é de 27ºC (mínima de 23ºC e máxima de 32ºC). A temperatura da água varia de 26ºC a 29ºC.

Dinheiro

A moeda é a rupia indonésia (IDR) e no momento sua cotação contra o dólar americano é 1US = 12206,00 IDR (câmbio flutua bastante). Nos centros turísticos, há boa oferta de caixa eletrônicos e cartões são bem aceitos. Outra dica importante, compre um SIM de dados no aeroporto, ele funciona em toda a Indonésia e você poderá se comunicar com o mundo de forma barata e eficiente (o custo é de aproximadamente U$ 20,00 por 15 GB de dados).

Comida

Nasi goreng (arroz frito), mie goreng (macarrão frito), opor ayam (frango no leite de coco) e peixes assados são os pratos típicos. Mas se a comida local não te agradar, não se preocupe, na maioria dos hotéis e áreas turísticas há comida internacional. O padrão de higiene é bom, mas sempre recomendamos o uso de água mineral ou refrigerantes para evitar contaminações durante a viagem.

Segurança

Você vai se sentir extremamente seguro em Bali; os incidentes de violência envolvendo turistas são extremamente raros.

Etiqueta

Como em outros países hindus, há uma preocupação com os gestos e vestimentas. Para entrar nos templos, é preciso usar um sarong – espécie de saia para cobrir as pernas.

Hotel e operadora de mergulho

Ficamos em um hotel operadora boutique, a Bali Dive Trek, localizada em uma área calma e afastada de Amed. Um hotel lindo e moderno; uma operadora completa. Os inúmeros pontos da região tornam essa operação atrativa para todos os perfis de mergulhadores. Com eles você pode fazer desde mergulhos simples de praia até mergulhos técnicos, com rebreather ou side mount.

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