Falar um pouco de um lugar que frequento há mais de 20 anos é uma missão gratificante. A Ilha Grande é um desses lugares mágicos, onde a natureza ainda selvagem manda e desmanda, onde até pouco tempo não se tinha luz, e tudo funcionava na base do gerador.
A Ilha Grande é a maior ilha do estado do Rio de Janeiro e a sexta maior ilha marítima do Brasil. Possui uma área de 193 km², com relevo acidentado e montanhoso, cujas maiores elevações são o Pico da Pedra D’Água (1.031 metros) e o Pico do Papagaio (982 metros), sendo este o mais famoso, devido a sua forma pitoresca. As costas da ilha são recortadas por inúmeras penínsulas e enseadas (sacos), formando várias praias. A vegetação é exuberante, formada por mata atlântica, mangue e restinga.
O principal vilarejo é a Vila do Abraão, com aproximadamente 3.000 habitantes, onde se concentra a maior parte da infraestrutura da ilha, como posto de saúde, escola primária, posto dos correios e destacamentos do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar. Um serviço de barcas liga diariamente a Vila do Abraão com Angra dos Reis e Mangaratiba, no continente. A vila conta, também, com ampla oferta de pousadas, campings, bares, restaurantes e comércio para turistas. Há algumas outras pequenas comunidades espalhadas pela ilha, também dotadas de infraestrutura turística, como a Praia Vermelha, a Enseada do Bananal e a Praia do Japariz.
As atividades econômicas giram em torno da pesca e, principalmente, do turismo. A ilha oferece, atualmente, muitas alternativas turísticas: passeios de barco, praias com águas calmas para mergulho em família, praias destinadas à prática de esportes como o surfe, trilhas ecológicas por dentro da mata ao centro da ilha, mountain-bike, além de algumas atrações históricas.
Há na Ilha 4 unidades de conservação ambiental: o Parque Estadual da Ilha Grande, o Parque Estadual Marinho do Aventureiro, a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul (cujo acesso é somente permitido a pesquisadores e pessoas autorizadas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e a Área de Proteção Ambiental (APA) de Tamoios. Todas essas áreas visam a garantir a proteção da flora e fauna da grande reserva de mata atlântica existentes na ilha e da vida marinha em seu entorno.
Um pouco de História
Inicialmente habitada pelos índios tamoios, que já a chamavam de Ippaun Wasu (“Ilha Grande”)[1], foi avistada pelo navegador português Gonçalo Coelho em 6 de janeiro de 1502, dia de Reis – daí o nome da ilha. Ao longo do século XVI, houve diversos combates na região. Nesses combates, os portugueses, aliados aos tupiniquins, enfrentaram os franceses, aliados aos tamoios. Em 1559, a coroa portuguesa resolveu nomear Dom Vicente da Fonseca para administrá-la, o que só ocorreu, de fato, com o fim da guerra com os tamoios, em 1567.
A ilha foi atacada em 15 de dezembro de 1591 pelo corsário inglês Thomas Cavendish, que saqueou os viveres e pertences da população local e ateou fogo em suas residências, rumando em seguida para Ilha Bela para organizar seu ataque à Vila de Santos.
A dificuldade em administrar a ilha e em impedir ataques de contrabandistas e corsários forçou a transferência de sua administração da capitania de São Paulo e Minas de Ouro para a capitania Real do Rio de Janeiro em 1726, a pedido do governador Luís Vaía Monteiro. Nesse período, a ilha começou a desenvolver as culturas de cana de açúcar e café, que se estenderiam até a última década do século XIX, intensificando sua colonização, quer com a fundação de fazendas, como também de pequenas vilas, onde os negros trazidos para trabalhar nas lavouras fizeram do lugar uma das principais rotas do tráfico de escravos até a abolição da escravatura.
No ano de 1803, a ilha passou à condição de freguesia, com o nome de Santana da Ilha Grande de Fora, ganhando autonomia jurídica em relação a Angra dos Reis. Em 1863, o imperador Dom Pedro II fez sua primeira visita à ilha Grande, onde comprou a Fazenda do Holandês, local onde seria instalado o Lazareto, instituição que servia de centro de triagem e de quarentena para os passageiros enfermos que chegavam ao Brasil e, posteriormente, um sanatório para doentes de hanseníase. De 1886 a 1903, atendeu a mais de 4.000 embarcações. Serviu de presídio político durante os primeiros anos da república, quando foi criada a colônia agrícola correcional de Dois Rios.
Nos anos 1930, logo após o início do governo de Getúlio Vargas, deu-se a Revolução Constitucionalista de 1932, quando, então, todos os confinados do Lazareto foram transferidos para a colônia de Dois Rios, que passou a ser, em 1940, um presídio com capacidade para aproximadamente mil detentos, sendo, posteriormente, denominado Instituto Penal Cândido Mendes. Esse presídio se tornaria célebre quando da publicação de Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, que para lá foi encaminhado, como preso, durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945). Durante o regime militar de 1964, também foram transferidos presos políticos para o instituto, até o final da década de 1970, quando estes foram libertados e o presídio voltou a ter apenas presos comuns.
A ilha passou, então, por dificuldades econômicas, já que as poucas lavouras ainda existentes se tornaram de subsistência. Além disso, houve um grande declínio nas atividades da indústria pesqueira nos anos 1980.
Em 1994, o presídio, que era fonte de insegurança para a população local devido às fugas de presos, foi demolido pelo governo fluminense. Após sua implosão, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro obteve o direito de cessão da área e das benfeitorias que pertenciam ao presídio, inaugurando, no ano de 1998, o Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável.
Desde então, a economia da ilha tomou novo impulso e tem se baseado no turismo, sendo um dos locais mais procurados do estado do Rio de Janeiro para a prática de surfe, mergulho, mountain-bike, montanhismo, camping e trilhas.
Muitos eventos tradicionais acontecem neste paraíso, como o Festival de Música e Ecologia da Ilha Grande, o festival de Cultura Japonesa na praia de Bananal.
A Pousada Nautilus
Modernidades que chegaram a ilha há poucos anos, agora tornam a vida dos visitantes mais fácil. A pousada oferece chalés e suítes com ar condicionado, varandas e banheiros privativos, segundo as preferências dos hóspedes, que podem escolher desde uma suíte de casal a um chalé para até seis pessoas.
Além de tudo isso, a pousada possui a melhor operadora de mergulho da ilha, numa das mais belas zonas de todo o litoral fluminense. Uma enseada calma e abrigada, com uma praia deserta e aconchegante, lugar perfeito para aprender a mergulhar.
O lugar é perfeito para apresentar aos novos mergulhadores as belezas submarinas da região, com saídas de barco para pontos próximos. O próprio pier da pousada esconde desde nudibrânquios e cavalos marinhos, e com um pouco de sorte e atenção, até raias chitas e tartarugas, que já tive a oportunidade de ver várias vezes nos últimos anos.
Falar da pousada sem falar da comida seria um sacrilégio. A famosa culinária da Nautilus começa com um saboroso café da manhã continental com sucos, café, chás, leite, frutas da época, pães caseiros, pães recheados e bolos que são assados diariamente na pousada, com destaque para o croissant de chocolate que é uma perdição e seria motivo suficiente para me fazer visitar a pousada sempre.
No almoço e no jantar, a cozinha japonesa predomina, com saladas, peixes frescos, frutos do mar, carnes, massas e sobremesas que atenderão aos mais exigentes paladares. Todas as refeições são servidas em um buffet no sistema self servisse. No jantar, aos sábados, ainda conta com um saboroso churrasco, O por quê dessa culinária ser tão especial se deve ao fato de priorizarem os ingredientes orgânicos ou não industrializados.
Os peixes servidos são pescados artesanalmente na região. Os pães e bolos são assados diariamente e parte das hortaliças e frutas são cultivadas na pousada ou colhidas na ilha. Outra informação importante é que o café da manhã, almoço e jantar estão inclusas na diária, exceto as bebidas.
Visitar a pousada em uma operação de mergulho de escola é uma experiência completamente diferente de passar uma semana com calma e sem pressa. Passeios de barco, caminhadas, caiaque e standup fazem parte das atividades disponíveis aos hospedes, além de mergulhos e mais mergulhos, sejam de barco ou na própria pousada.
Na propriedade ainda temos um projeto de criação de beijupiras, um peixe grande e muito saboroso. A fazenda de criação está começando um projeto de educação ambiental e planeja disponibilizar mergulhos com os beijupiras, que podem chegar facilmente a 1,5 metro de comprimento e têm um comportamento bem dócil e curioso.
Além dos beijupiras a pousada cria vieiras e já virou point para grandes lanchas e iates na hora do almoço, seja para desfrutar da cozinha espetacular do local ou apenas para comprar peixes e vieiras frescas para a refeição a bordo.
A operadora de mergulho da pousada conta com 3 barcos próprios adequados ao mergulho, e possibilita grupos de mergulhadores separados em cada barco. Possui todos os equipamentos para locação, estação de recarga com 3 Compressores, 1 Cascata com 10 cilindros e 120 Cilindros S80 de alumínio para operação. Além do deck de mergulho, local adequado para instrução e montagem de equipamentos com escada para acesso ao mar e plataforma para passo de gigante, sem precisar sair da pousada!!
Pontos de Mergulho
O naufrágio do Pinguino
Um dos pontos de mergulho mais icônicos da ilha está a apenas alguns minutos de navegação da pousada, o naufrágio do Pinguino, Segundo o próprio capitão, o barco navegava a 80 milhas da costa, com destino a Buenos Aires depois de tocar em Angra dos Reis, RJ.
Na noite de sexta-feira na data de 23 de junho de 1967, irrompeu um incêndio devido a um curto circuito na casa de máquinas, motivando defeitos na bússola e outra avarias, o que fez o navio retornar a Angra dos Reis. Na manhã de sábado, o fogo alastrou-se devido a carga de cera de carnaúba e tomou proporções alarmantes.
O navio encontrava-se a 800 metros do cais, por trás da Ilha do Colombo. Sendo infrutíferas as tentativas de combater as chamas, o navio foi rebocado para o abrigo da enseada do Sítio Forte, na Ilha Grande.
O incêndio durou 32 horas e causou pânico na tripulação, fazendo com que alguns tripulantes pulassem ao mar antes das baleeiras serem lançadas. Todos os tripulantes foram resgatados pelo navio Monte Castelo, enquanto o rebocador Tritão e algumas lanchas da Escola Naval também davam apoio aos trabalhos de resgate.
O afundamento ocorreu após as 21:25 horas do dia 26, após flutuar dois dias com inclinação de cerca de 40º. Segundo o Jornal O Fluminense foi aberto um inquérito policial pois suspeitava-se que o incêndio tenha sido provocado para encobrir contrabando, já que o navio estava fora da rota que seus documentos indicavam.
- Origem: Panamá.
- Comprimento: 50 metros.
- Tipo de Embarcação: Graneleiro.
- Casco: Aço. Propulsão: Hélice.
- Carga: 18 Toneladas: cera de carnaúba, castanha de caju, sisal e café. Motivo do Naufrágio: Incêndio. Data do Naufrágio: 26/06/1967.
- Local: Ilha Grande, RJ Brasil.
- Posição: Enseada do Sítio Forte (23°07’03.6″S 44°16’59.5″W).
Tivemos a oportunidade de mergulhar nele durante os últimos dias e constatamos mais um desabamento em sua estrutura de popa, que já vem se desfazendo a algum tempo, a penetração é completamente desaconselhada, e seu interior encontra-se bastante instável, o eixo do leme ainda segura uma parte da estrutura do casco da popa, mas toda a parte do convés já veio abaixo.
Sem dúvida apesar dos desmoronamentos continua sendo um dos melhores pontos da Ilha Grande, principalmente para quem gosta de naufrágios como eu.
Agradecimento as informações históricas do site Naufrágios do Brasil do mestre Maurício Carvalho.
O Helicóptero
Um acidente causou o naufrágio do helicóptero tipo esquilo PTHNB, no dia 04/01/1998 na Ilha Grande. O helicóptero decolou de Angra dos Reis para o Rio de Janeiro e com o mal tempo, a aeronave começou a dar problemas na cauda, caindo abruptamente entre as pontas Gamela e Grossa. fica próximo a Lage da Matariz, tornando-se um dos locais mais frequentados por mergulhadores. É possível encontrar marimbas, estrelas do mar e frades. Possui visibilidade de 4m a 15m e profundidade de 6 a 12 metros.
Naufrágio do Califórnia
Um vapor de rodas de 40 metros que afundou na praia Vermelha após um ataque de piratas. Pesquisadores acreditam que a embarcação pertencia a um poderoso fazendeiro e contrabandistas de escravos. Está desmantelado e enterrado com apenas pistões, rodas de pás e parte da quilha, caldeira e costados aparentes. Possui visibilidade de 4m a 8m e profundidade de 5 a 15 metros, hoje em dia é possível avistar encontrar cavalos marinhos e cações viola em seu entorno com muita facilidade.
Jorge Grego
Considerado o melhor local de mergulho da Ilha Grande. Possui visibilidade de 8m a 15m e profundidade de 6 a 40 metros. A parte oceânica possui grutas com moreias, garoupas, polvos e peixes como bonitos e anchovas. O lado abrigado apresenta fundo de areia com belas passagens entre as pedras, um barco naufragado e várias espécies de peixes, tartarugas, corais, esponjas e raias. A melhor das atrações é a possibilidade de encontrar golfinhos.
Ilha dos Meros
Além da bela ilha há a praia dos Meros, quase deserta. Este local fica perto da Ponta do Drago, final da parte abrigada da Ilha Grande, e por isso, o mar pode ser muito agitado. Neste ponto de mergulho é possível avistar tartarugas, raias, lagostas, moreias, budiões, linguados e garoupas. Possui visibilidade de 10m a 15m e profundidade de 6 a 18 metros.
Ilha de Pau a Pino
Possui visibilidade de 5 a 8 metros e profundidade de 6 a 18 metros. Uma das mais de 360 ilhas da baia da Ilha Grande, bem pequena e afastada. É uma boa opção para quem sai de Itacuruçá ou Mangaratiba. Quando a água está clara, temos um belo visual com peixes de várias espécies.
Ilha do Morcego
A prática de snorkeling também é muito comum nesta área, onde podemos encontrar inúmeras variedades de peixes, esponjas e corais raros como Cérebro. É um lugar que poucos conhecem e que fica próximo à enseada do Abraão. Possui visibilidade de 3 a 8 metros e profundidade de 6 a 10 metros.
Ilha do Guriri
Também conhecida como Lage do Guriri, este ponto de mergulho nos oferece a possibilidade de contemplação de uma gruta com capacidade para abrigar 10 mergulhadores. Em dias ensolarados, os raios de sol passam entre as fendas e formam feixes de luz, criando um visual espetacular. Possui visibilidade de 6 a 15 metros e profundidade de 9 a 18 metros.
A Laje Branca
A laje fica ao largo da enseada de Araçatiba e possui variedade de peixes, colônias de corais diversos e uma pequena gruta repleta de corais Sol e gorgônias vermelhas. Excelente local para mergulho noturno. Possui visibilidade de 6 a 15 metros e profundidade de 6 a 14 metros.
Parcel do Coronel
Considerado um dos melhores pontos de mergulho do Mar de Dentro tem como característica formações e fedas que formam um verdadeiro labirinto forrado de vida e de corais com uma profundidade máxima de 25 metros.
A Gruta do Acaiá
A entrada da gruta está há 6 metros de profundidade e fica no extremo Oeste da Ilha Grande, após a Praia Vermelha. Logo após a entrada existe um salão que se comunica com a superfície, sendo possível sair da água. Neste local o visual é muito bonito devido a forte coloração esverdeada que vem do fundo. Na gruta vivem cardumes de peixes Frades e Salemas. Possui visibilidade de 6 a 11 metros e profundidade de 0 a 14 metros. A travessia só é aconselhada para mergulhadores experientes.
CONTATO POUSADA NAUTILUS
Praia de Jaconema, S/N – CEP 23900-900 – Ilha Grande – Angra dos Reis – RJ Brasil Tel: 24-998582995 | e-mail: pousadanautilusilhagrande@uol.com.br