Recife capital do Estado de Pernambuco no Brasil, é conhecida mundialmente como a capital dos naufrágios brasileiros, e com a recente adição de 4 rebocadores ao parque marinho ganhou mais pontos de mergulho fresquinhos para conhecer.

São mais de 25 navios afundados próximos à costa recifense que fazem a cidade ser considerada a capital de mergulho em naufrágio do Brasil. As águas quentes da cidade, com temperatura média de 27ºC, e boa visibilidade atraem turistas e mergulhadores do Brasil e diversas partes do mundo.

O parque é formado por naufrágios naturais e artificiais: os naturais são aqueles que afundaram por mau tempo, bateram em outras embarcações ou encalharam. Já os naufrágios artificiais contam com 12 embarcações que foram afundadas para turismo de mergulho e para pesquisas de universidades. Saindo do Porto do Recife, o parque fica entre 1 hora e 1h30 de navegação. Alguns dos naufrágios mais procurados são o Pirapama, afundado a mais de 100 anos, o Flórida, o Taurus e o Mercúrius, sendo os dois últimos artificiais.

A melhor época para o mergulho vai de setembro até maio. Nos meses se junho, julho e agosto, as chuvas frequentes deixam o mar agitado e a visibilidade torna-se ruim. Os ventos muito fortes também atrapalham e por questão de segurança, as embarcações ficam abrigadas nos portos. O verão é a melhor época e quando há mais registros de turistas. a saída normal de mergulho contempla a visita em dois naufrágios. “Normalmente se visita primeiro o mais distante e depois, o mais próximo da costa, por uma questão de logística.

Vamos falar de 2 naufrágios naturais que estão a muito mais tempo no fundo e mostrar o porque esses lugares tornaram-se um santuário de vida marinha nas águas Pernambucanas.

Contando com a operação e apoio da Aquáticos de Recife, creio que hoje a melhor, maior e mais bem estruturada operadora da região, fui registrar esses dois naufrágios e mostrar um pouquinho da biodiversidade e visual desses pontos.

Sobre o Vapor de baixo

Histórico:

A identidade do Vapor de Baixo ainda é desconhecida e mesmo a data normalmente divulgada para este naufrágio não é confiável, já que não existem registros de fontes primárias sobre seu afundamento.

Analisando os seus destroços, o Vapor de Baixo parece um pequeno rebocador, contudo mais pesquisas precisam ser efetuadas para poder afirmar isso com mais segurança.

O navio está bastante deteriorado pela ação do tempo, encontra-se apoiado em posição de navegação no fundo arenoso, com grande parte de suas estruturas remanescentes enterradas. Apesar de ser possível perceber junto da areia o contorno geral da embarcação, não existe mais casco e nem cavernames expostos, resta do navio seu conjunto propulsor que é absolutamente imperdível para qualquer apaixonado por naufrágios e fotógrafos submarinos, a Roda propulsora é simplesmente o ponto alto do mergulho com diversos cardumes se abrigando em sua estrutura, formando uma paisagem surreal, os peixes parecem sincronizar com a leve corrente e desfilam em um balé sem igual. 

Descrição:

Nada mais resta da proa, apenas dois ou três pedaços de ferro emergem da areia à frente das caldeiras. Existem duas grandes caldeiras convencionais, que mantém sua posição original. Na frente e atrás delas, estão caídas duas câmaras de condensação das caldeiras, todo o conjunto de tubulações ou foi retirado ou está enterrado. 

Dois metros atrás das caldeiras, encontramos as máquinas a vapor, constituídas por dois cilindros unidos por alavancas móveis do tipo: Side LeverEngine. Podem ser vistos os cilindros, válvulas de admissão de pressão, partes dos pistões, bielas, conectadas ao sistema as rodas de pás.

As duas grandes rodas de pás de propulsão, são as maiores estruturas do naufrágio, com aproximadamente 4 metros de diâmetro. Elas mantém sua posição correta, porém já em adiantado estado de degradação, creio que em pouco tempo essas estruturas vão cair e ceder, por isso se você quer fotografar ou apreciar esse visual corra.

Pirapama

Um dos mergulhos favoritos de todo fotógrafo submarino que visita Recife o pirapama é um verdadeiro parque de diversões, além do mergulho diurno fantástico não deixe de experimentar o noturno nesse naufrágio.

História:

Na tarde do dia 24 de março de 1887 o vapor Pirapama, zarpou do Recife com destino aos portos do Norte do Brasil. Tudo corria normalmente até as 23:00. O mar estava calmo e a maioria de seus passageiros dormia nos camarotes.

Esta paz iria terminar minutos depois. A aproximadamente 36 milhas do Farol do Picão, um grande impacto é sentido. Passageiros em pânico correm até o convés para ver o que aconteceu.

A imagem que viram era aterradora. O navio em que estavam colidira fortemente contra outra embarcação. Esta embarcação movida por duas rodas laterais tentava com toda a força de suas máquinas ir em direção de terra mas, rapidamente desapareceu no mar.

O navio que fora atingido era o Bahia, pertencente a Empresa Brasileira de Navegação e que procedia da Paraíba dirigindo-se até Recife onde era esperado pela manhã.

O impacto que recebera do Pirapama fora mortal. Atingido na proa, tivera seus porões e posteriormente a casa de máquinas inundadas pela água. Rapidamente foi ao fundo.

Mais de duas centenas da pessoas procuravam salvar-se agarrando em qualquer coisa que flutuasse: bóias, tábuas, móveis, coletes de cortiça. A história nos guarda duas versões sobre a atitude do comandante do Pirapama, numa conta-se que buscou, por cerca de meia hora, os restos e os náufragos do Bahia e, por fim, retornou ao porto do Recife; outra afirma que partiu imediatamente para tal porto, sem sequer procurar auxiliar os náufragos pois, segundo consta nesta mesma versão, seu choque com a outra embarcação fora proposital, motivada por uma discussão, aparentemente por motivos passionais, com o comandante do Bahia.

O socorro viria inicialmente pelas embarcações de pesca saídas da praia de Goiana, que havia visto a embarcação naufragar enquanto tentava chegar a praia. Alguns dos náufragos conseguem chegar a nado à costa. Outros se mantém flutuando enquanto as jangadas não chegavam.

A cena é terrível, pessoas que se separam de seus parentes, gritos implorando socorro, pessoas que se abandonam a morte por não conseguir mais nadar. Vários são os dramas como o de uma criança de 5 anos que, no momento em que iria ser salva junto com sua mãe, dos braços dela se solta e desaparece no mar. A uma mulher é recusado um lugar numa prancha pois nela não cabia mais ninguém e, por mais que implorasse, acabou por se afogar.

Na manhã seguinte partem de Recife o vapor Jiquiá da Companhia Pernambucana de Navegação e o rebocador Moleque para tentar localizar náufragos e os trazer para o Recife. Ambas encontram apenas mortos que boiavam e os recolhem. Nas praias também chegam vários cadáveres e inicia-se a contagem das perdas humanas.

Mais de 40 pessoas entre tripulantes e passageiros são dados como mortos. Entre eles o comandante, Primeiro Tenente Aureliano Isaac e o Imediato Silvério Antônio da Silva.

Quanto ao Pirapama, os danos que sofreu não foram suficientes para afundá-lo mas, para seus armadores, eram suficientes para que não houvesse recuperação. Permaneceu ainda por 2 anos a flutuar enquanto era despojado de importantes equipamentos e, finalmente, em 1889, foi levado a 6 milhas do porto e afundado.

Estas duas embarcações próximas, até demais, em sua história e distantes no ano e local de seu naufrágio podem ser consideradas como dois dos melhores pontos de mergulho em naufrágio do Nordeste pois hoje, além de suas características, são habitat de várias espécies que tornam o mergulho ainda mais interessante.

Localização

Naufrágio do Pirapama: A apenas 6 milhas do porto do Recife e a uma profundidade que varia dos 22 a 25 metros. Nele é comum encontrar raias, tartarugas, moréias, bijupirás além de grandes cardumes.

Outros destaques são: 

O Walsa (42 metros), um rebocador descomissionado da frota da Wilson Sons, que já doou um grande número de rebocadores que estão já no fundo. Nesta faixa de profundidade a água tem sempre sua melhor visibilidade em Pernambuco, e não perde em nada por exemplo, para Fernando de Noronha.  

O Lupus, agora um dos mais antigos recifes artificiais, aos 36 metros, e como tal, de uma época em que foi permitido pelos órgãos competentes a isso, ser afundado com seus dois potentes e belíssimos motores. Isso deixa a penetração em seu porão principal um pouco mais “apertada”, mas sem dúvida com um charme extra pela sua presença. 

O Servemar X, já aos 24 metros, um dos mais visitados do parque devido a sua pouca profundidade, casa de tubarões lixa que se abrigam em seus porões ou na areia ao lado do costado e do hélice.

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