Liveaboard MV Saman Explorer | Texto e fotos: Kadu Pinheiro
Mergulhar em lugares exclusivos e pouco explorados tem sido uma das coisas que eu mais busco na minha jornada, acho que é o sabor pelo desconhecido, saber que poucas pessoas, ou até mesmo nenhuma pessoa já mergulhou em determinado local atiça minha vontade.
Mergulhar em Omã já seria um troféu e tanto, agora mergulhar em Omã a bordo de um liveaboard, único na região, que começou suas operações a apenas 3 anos e a cada expedição continua desbravando e descobrindo pontos novos em um lugar fantástico e cheio de vida, um verdadeiro oásis no meio de desertos, com milhares de quilometros de costa inexploradas, partindo de uma pequena vila de pescadores em Mirbat, vivendo e respirando o gostinho do desconhecido a cada imersão…. hummm essa viajem eu posso chamar de a cereja do bolo dos meus últimos meses.
Continuando nossa saga pelo Sultanato de Omã, partindo de Muscat após nossa aclimatação em terras Omanis, pegamos um vôo doméstico rumo a Salalah, onde embarcamos em nossa expedição pelas águas das ilhas Hallaniyat, região ao Sul de Omã, com mais de 1700 km de costa quase selvagem, um convite a aventura e as novas descobertas, se você já mergulhou pelo mundo e está em busca de novos desafios, ou ainda é daqueles que gostam de descobrir e experimentar, Omã é o seu lugar.
Voos domésticos em terras Árabes são uma aventura por si só, uma imersão na cultura islâmica, no dia a dia de um povo bem diferente dos ocidentais, partimos pela manhã em um trajeto relativamente curto, foram 2 horas de voo e pousamos em Salalah.
Um dos guias do barco, um alemão chamado Barney nos aguardava e a mais um casal de franceses que também embarcaria na aventura, éramos os 4 tripulantes faltantes.
Barney, após uma rápida explanação de nosso intinerário nos acomodou em uma pickup e seguimos rumo a Mirbat, cidade portuária localizada a mais ou menos uma hora de distância de Salalah, local do nosso embarque no Saman Explorer, único cruzeiro de mergulho da região, um barco de procedência e tripulação Egípcia e que seria nossa casa nos próximos dias.
O Saman Explorer é um barco confortável e bem equipado, não espere um barco luxuoso, construído em 2004, com 34 metros de comprimento e 11 cabines, comporta até 22 mergulhadores, conta com Ar-condicionado em todas as cabines, recarga de nitrox e 2 botes de apoio, além de TV e ampla sala de refeições e convivência, deck superior com solário, em fim um barco sem muita frescura, mas perfeito para o seu propósito, com guias experientes e tripulação acostumada a atender clientes de diversas partes do mundo, o Saman é o barco certo para explorar a região.
Já na estrada senti o clima da aventura, olhando a paisagem árida e desértica, pude observar diversos camelos selvagens, e placas de aviso com relação a travessia deles na estrada, chegamos ao porto, repleto de tradicionais barcos de pesca da região, e nos tornamos logo o centro das atenções por parte dos pescadores locais.
Uma panga já nos aguardava no cais, onde descarregamos equipamentos e seguimos para o barco que estava fundeado um pouco mais distante da “muvuca”, com sorrisos nos rostos e curiosidade latente, os pescadores omanis davam “tchauzinho” e nos olhavam com certa desconfiança, logo ao embarcar fomos recebidos pela tripulação e por nosso segundo guia Karem, um egípcio boa praça que se tornaria nosso grande cúmplice nos mergulhos que estariam por vir.
O resto dos clientes já se encontrava a bordo, e fomos devidamente apresentados a todos, éramos então 2 brasileiros, eu e o Marcelo, uma inglesa, um casal de franceses, 2 suiças e 4 alemães, uma equipe bem diversificada, e a princípio bem séria e comportada, mas como bons brasileiros que somos tratamos logo de enturmar todos e rechear os dias com muitas piadas e histórias engraçadas.
Zarpamos na mesma noite, após um briefing detalhado sobre o barco e procedimentos de segurança a bordo e durante os mergulhos, Logo em seguida uma janta especial de boas vindas, aliás um dos pontos que gostei do Saman, a comida: simples, mas sempre muito gostosa e diversificada durante toda nossa estadia a bordo.
Equipamentos prontos, câmeras montadas e finalmente uma noite tranquila, singrando as águas do mar índico rumo ao desconhecido.
O primeiro dia de mergulho, ainda perto da costa não agradou muito, fizemos um check dive com 4 ou 5 metros de visibilidade e água muito ruim, mas ainda sim recheado de vida marinha, diversificada e em quantidade absurda, o restante dos mergulhos do dia foram na mesma região e confesso que nos decepcionou um pouco, conversando com os guias do barco nos explicaram que as correntes mudam muito e trazem nutrientes, deixando a água ruim as vezes, mas que melhoraria nos próximos dias.
Nos dias seguintes, os mergulhos seguiram com uma água bem melhor, e uma explosão de vida sem igual, peixes, muitos peixes, cardumes e mais cardumes de tudo quanto é peixe, arraias gigantes, moréias que populavam cada metro quadrado de rocha.
O destaque ficou para um ponto novo que fomos explorar e que nos deixou deslumbrados, uns 40 metros de visibilidade e um mar de cardumes e peixes, tubarões, raias, moréias gigantes, tudo junto e misturado ao mesmo tempo, impossível de retratar em imagens, era um mergulho matutino e pela tarde ainda estávamos na mesma região e o planejado era fazer outros pontos, mas eu e o Marcelo queríamos voltar lá, no mesmo ponto da manhã, Barney tentando nos convencer que a corrente havia mudado e que a visibilidade já não seria a mesma, mas algo lá no fundo ainda me dizia que não, que tínhamos que cair lá de novo.
Como bons europeus comportados todos seguiram o conselho de Barney e apenas eu e o Marcelo convencemos o Karem a nos acompanhar novamente ao ponto, e lá fomos nós cruzando os dedos para que o Barney estivesse enganado, nosso amigo Karem rindo muito da nossa insistência e teimosia, e lá fomos nós de panga, 5 minutos de navegação e muitas ondas na cara, uma água meio verde na superfície, pensei comigo mesmo, droga acho que a gente se deu mal….
Mas sem dar o braço a torcer, pensei “bora” para baixo, a água para nossa surpresa, após a capa de nutrientes da superfície, uns 5 metros de profundidade, se abriu em uma visibilidade horizontal de mais de 50 metros, e aquele mar de peixes só para nós!
Que êxtase, nós estávamos certos! foi o melhor mergulho da viagem, um perfil quadrado com 20 metros de profundidade média e uma atividade insana, literalmente “zerei” meu ar, fazendo a parada de segurança respirando a raspa do cilindro, voltamos ao barco rindo como crianças, um atropelando o outro, como se tivéssemos mergulhado a primeira vez na vida, como essa sensação é boa, e para quem mergulha a mais de 20 anos, já tendo visto um pouco de tudo pelo mundo, ter um local que desperta esse sentimento é especial e raro.
Durante as noites, nos alternávamos na companhia dos amigos europeus e da tripulação do barco, tomando um café beduíno na popa, com o capitão e os marinheiros, ouvindo e contando histórias, olhando as estrelas e imaginando mil coisas.
Nos dias seguintes ainda tivemos o prazer de mergulhar com um grupo de golfinhos que apesar de tímidos cruzaram nosso mergulho 2 ou 3 vezes.
Eu tinha 2 missões nessa trip; fotografar o tubarão leopardo e a moréia dragão, e como missão dada é missão cumprida, consegui registrar os dois! graças ao amigo Karem, nosso dedicado guia egípcio, que se empenhou em procurar e achar os dois animais para mim, um deleite.
Não poderia deixar de agradecer a outro membro da tripulação, Ahmed, um baixinho atarracado e com caria séria, que me salvou 2 mergulhos com rapidez e agilidade para solucionar um vazamento e uma tira do meu colete que se rompeu, ficamos amigos e acabei ganhando um dente de tubarão tigre como símbolo de amizade, coisas especiais, amizades que nascem no mar mesmo sem falar quase uma palavra em egípcio e ele muito menos em inglês, coisas do mar, deixei com ele todas as fotos da viagem para mostrar aos seus filhos, e o mesmo me agradeceu com os olhos cheios de lágrimas.
Ao retornarmos a costa, já perto de Mirbat mergulhamos em um pequeno naufrágio com água cristalina e também totalmente abarrotado de peixes, esse ponto, assim como outros pode ser feito a partir da operação de um resort próximo a Mirbat o Marriott Salalah Beach Resort que possui um dive center da Extra Divers (a mesma empresa dona do Saman Explorer) ficamos hospedados mais 2 noites nesse resort e tivemos a oportunidade de conhecer a operação de mergulho em uma saída com eles.
Uma excelente opção para quem quer mergulhar na região e não dispõe de muitos dias para um liveaboard, ficar hospedado no Marriott com todo o conforto e luxo que a rede oferece, e desfrutar de saídas diárias de mergulho a partir de sua base.
Terminamos assim nossa jornada nas terras do sultão Qaboos, novos amigos, novos projetos, gostinho de quero mais, fumando um narguilé de frente para a praia e esperando a hora de partir rumo ao Brasil.