Mergulhe na cultura e nas águas dessa região cercada por um mundo submarino praticamente intocado e quase que totalmente inexplorado. A Arábia Saudita é considerada o berço da civilização, da língua e da raça árabe. Seu mistério, misticismo e áridos segredos têm atraído muitos aventureiros ao longo dos tempos. Os atrativos que o país oferece vão desde o cultural, representado pelas ruínas do passado, até a natureza da sua paisagem desértica, refrescada pelos oásis, além, é claro, do mundo submarino intocado e quase inexplorado, que agora tenho a oportunidade de apresentar a vocês, leitores. Deliciem-se com um pequeno aperitivo das maravilhas submersas dessa terra banhada pelo Mar Vermelho, abrigo de um dos mais variados e ricos ecossistemas da região.
Uma região que parecia condenada pela natureza a uma particular pobreza tem encontrado nas jazidas de petróleo uma considerável fonte de recursos. O país figura entre os maiores produtores do mundo. As jazidas encontram-se ao longo do Golfo Pérsico, onde tem sido construídas grandes refinarias. Não obstante, a riqueza aportada pelo petróleo só tem modificado superficialmente as estruturas sociais do país, que seguem sendo arcaicas: a escravidão só foi abolida em 1962 e o analfabetismo afeta a maior parte da população. Mesmo pesando os esforços realizados por alguns burgueses liberais, a aristocracia tradicional continua a exercer um poder autoritário, baseado na intransigência religiosa.
Localização geográfica
O Reino de Arábia Saudita encontrasse na península da Arábia, a maior península do mundo, entre o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. O trópico de Câncer atravessa o país. Limita-se ao norte com Jordânia, Iraque e Kuwait; ao leste com o Golfo Pérsico, Qatar, os Emiratos Árabes Unidos e Omán; ao oeste com o Mar Vermelho e ao sul com Yemen. O país é formado principalmente por desertos e estepes, com escassa vegetação. O deserto de areia de Ar-Rub´al-Khali, no sul do país, é um dos mais áridos do mundo. A hidrografia é muito pobre. Os rios (waddis), leitos secos, não chegam ao mar e perdem-se nas areias dos desertos. Na costa oeste extende-se à cordilheira de Tihamah, cujas altitudes sobrepassam os 3.000 metros de altitude.
Flora e fauna
As condições climáticas da Arábia Saudita, com abertas planícies e extensos desertos, com um intenso calor de dia e temperaturas frescas à noite, dão origem a uma flora e fauna restritas a algumas poucas espécies. Juncos e diversas ervas crescem entre as dunas costeiras. As chuvas, sob a forma de rápidas tempestades, alimentam a breve floração de várias plantas. Não existem bosques, muito embora os montes Asir sejam cobertos por cedros e oliveiras.
Até este século e com o auge da caça como esporte, o país possuía uma variedade importante de animais. As gazelas sobrevivem em uma quantidade muito reduzida. Cabras montanhesas, lobos e hienas abundam em determinadas zonas, enquanto os leopardos existem em um número reduzido ao sul de Jedda.
O bacalhau, a cavala e outros peixes abundam nas águas costeiras, assim como tubarões e diversas espécies de peixes recifais. As formações coralíneas são ricas e variadas, nos brindando com um espetáculo de cores e formas.
Na Arábia Saudita cultivam-se perto de 400.000 hectares. As palmeiras de dátiles são o cultivo mais importante, seguido do trigo, da cevada, do milho e do sorgo, que constituem as principais colheitas de grão. O algodão, o arroz e algumas frutas são produzidos em menor escala.
Época Antiga
Os primeiros moradores destas terras perdem-se na história. Dos numerosos reinos que assentaram-se no território, lembramos os Nabateos, que chegaram nos primeiros anos da nossa era até Damasco. Já no século XVIII governou em Dir´aiyah, perto da atual capital, o reino Al-Saud. O primeiro império saudita surgiu da aliança entre Mohamed Bim Saud, de estilo militar, que governava em Dir´aiyah, e Mohamed Bim Abdul Wahhab, que aplicou de forma estrita o Islão. Desta combinação surgiu a idiossincrasia atual da Arábia Saudita. Os turcos ocuparam parte do país e não foram embora até este século.
Época moderna
Uma vez expulsos os turcos, após a derrota que sofreram na I Guerra Mundial, Abdul-Aziz Ibn-Saud foi proclamado rei. Desde então, o Estado foi governado por um regime absolutista, em contínuas fricções com os países vizinhos pelas suas reivindicações territoriais.
A partir de 1948, renunciou à sua política de expansionismo, reconciliou-se com os reis de Transjordânia, assinou um pacto de amizade com Egito e aderiu à Liga Árabe. Quando em 1953 morreu Ibn-Saud, sucederam-no seu filho Saud, que abdicou em 1964, e o irmão deste, Feisal.
No conflito árabe-israelita de 1973, Feisal apoiu militarmente a Síria e o Egito e participou no embargo de petróleo aos países ocidentais. Foi assassinado em 1975 e sucedido por seu irmão Jakid, e este, quando de sua morte, pelo príncipe Fahd, que tentou devolver a paz ao Oriente Próximo.
Durante a Guerra do Golfo, a Arábia Saudita tentou proteger seu reino e transformou-se na base de operações militares contra o Iraque. No fim da guerra era primordial uma mudança de governo. O rei Fahd começou uma série de reformas. Porém, em 1993, o governo declara fora da lei o Comitê para a defesa dos Direitos Legítimos, criado recentemente por algumas figuras islâmicas. Parece que a política do país não está com ânimo de se abrandar.
Até hoje o governo da Arábia Saudita é considerado extremista, o turismo convencional é proibido, vistos turísticos não são concedidos e o mergulho só podia ser divulgado porque um dos príncipes sauditas era sócio de um operador italiano pioneiro em toda a região do Mar Vermelho, “A Compagnia del Mar Rosso”. A empresa é capitaneada pelos irmãos Massimo e Adriano Bicciato, que são considerados verdadeiras lendas no Egito, Sudão e Arábia Saudita, tendo sido protagonistas de grandes explorações na região sul do Egito, além de pioneiros na operação de quase todos os destinos de mergulho do Mar Vermelho. Suas histórias e aventuras merecem uma matéria à parte. Tive a oportunidade de mergulhar com o Massimo na Arábia e ouvir um pouco de suas aventuras, regadas de uma simplicidade e alegria contagiantes. Ele conserva o espírito explorador dos antigos mergulhadores, e cada mergulho ainda é tratado como se fosse o primeiro. Pudemos explorar cinco novos pontos de mergulho durante nossa expedição e fomos os primeiros a desbravar alguns dos recifes mais intactos que tive a oportunidade de conhecer em minha vida, hoje o mergulho encontra-se temporariamente proibido para estrangeiros.
Por dentro da Arábia Saudita
Gastronomia
Há um prato muito popular que chama-se foul e que é preparado à base de feijão. Cozinha-se também o frango assado. E para pratos rápidos ou de baixo custo existem as cozinhas hindus e ocidental, no estilo fast food.
Bebidas
O mais corrente são a água mineral, os sucos de frutas e os refrigerantes. O “champagne saudita” é feito à base de suco de maçã e Perrier. Bebidas alcoólicas são proibidas.
Compras
O mais aconselhável para fazer compras é dar uma volta pelos bazares. A lista de coisas para comprar é muito variada, desde tecidos e roupas feitas à mão, trabalhos de joalheria em metais, tapetes etc.
População e Costumes
A população é majoritariamente árabe maometana, praticante do culto sunnita. Não se sabe com exatidão quanta gente vive no país, embora o governo estime a população atual em 15 milhões de habitantes. Sensos realizados por empresas privadas falam em 12 milhões e há ainda quem estabeleça algo por volta de 7 milhões.
Dentro do país há diferentes tipos físicos. A população é menos homogênea do que se pensa; as marcas e a cor da pele mudam consideravelmente, de acordo com a região.
Transportes
As linhas aéreas que operam no país são da Saudi Arabiam Airlines, que também conta com voos internos às principais cidades do mundo. A Arábia Saudita é o único país da península arábica que conta com uma rede ferroviária. Os trens são modernos e eficientes, mais baratos do que o ônibus. Embora não haja grandes aglomerações, aconselha-se comprar os bilhetes com antecedência.
O ônibus é a melhor forma de percorrer o país. São cômodos e dispõem de ar-condicionado. Também pode-se alugar um carro para circular pelo país.
A carteira de motorista dos países ocidentais são válidas.
Arte e cultura da Arábia Saudita
O islamismo é a religião do Estado. A maioria dos sauditas pertencem à seita sunnita, porém, a seita chiita tem mais seguidores na província oriental. O “haj”, a peregrinação islâmica anual a Meca, atrai mais de um milhão de muçulmanos e há que se dizer que antes da descoberta do petróleo, esta era a maior fonte de recursos do país.
O árabe é a língua nacional e o ensino é gratuito, mas não obrigatório. A vida na Arábia Saudita segue os costumes islâmicos mais restritos. O álcool e o porco são ilegais, bem como teatros e cinemas. As mulheres não têm permissão para conduzir automóveis e se utilizarem transporte público devem estar acompanhadas do marido ou por algum homem da família. Nas horas das rezas as lojas são fechadas e os programas de TV interrompidos.
As mulheres são permitidas nas operações de mergulho, desde que acompanhadas do “marido ou companheiro”. O uso da burca nas cidades é obrigatório mesmo para estrangeiras. No barco a situação é mais normal, visto que toda a tripulação é constituída por egípcios que estão mais do que acostumados com os hábitos ocidentais em operações de mergulho.
Jeddah
Na costa central do Mar Vermelho encontra-se esta cidade, uma importante metrópole, que convive com sua história e o seu moderno desenvolvimento. As muralhas da antiga cidade extendem-se por uma rota ideal para realizar uma interessante excursão.
Da antiga muralha restam ainda três portas: a Porta do Norte da Cidade sobre Maydam Al-Bayal; Bab Makkah na intersecção entre Al-Mukarramah Rd e Ba´najah; e Bab Sharif em Ba´najah, perto do hospital. Um exemplo claro da arquitetura tradicional da cidade é a Casa Shorbatly, decorada em seu interior com corais de arrecifes do Mar Vermelho.
Um curioso museu para visitar é o Museu da Municipalidade. A Casa de Naseef é um edifício que pertenceu ao clã dos Naseef no século XIX. Uma das mesquitas mais antigas da cidade é a Mesquita de Al-Shafee.
Yanbu
A cidade é um centro industrial em crescimento, com três refinarias de petróleo de grande porte, um complexo petroquímico e uma usina de dessalinização também de grande porte. Yanbu é conectada ao resto do país por um sistema viário moderno. Ela também tem um aeroporto, um grande porto comercial e uma base naval. Durante Bahr al, o primeiro milénio aC, Yanbu foi um ponto de parada para caravanas mercantes na rota do incenso que se estendeu a partir do Yemen para o Mar Mediterrâneo.
Mais tarde serviu também como um local de repouso para peregrinos muçulmanos que viajam a Meca e Medina. Em 1975, o governo saudita escolheu Yanbu e Al Jubayl, uma pequena cidade na costa do Golfo Pérsico, para serem desenvolvidas como modernas cidades industriais. Ambas desempenham um papel central em diversificar a base econômica da Arábia Saudita para que o país não dependa exclusivamente das exportações de petróleo bruto. Localizada a 350 km ao norte da Jeddah, Yanbu é o ponto de partida das expedições para a região Norte da Arábia Saudita. A partir do porto privado de Sharm El, fazemos nosso primeiro mergulho nos recifes de Sharm el Gotha. Já dá para ter um pequeno vislumbre do que iremos encontrar adiante com seus ricos recifes de corais quase intocados.
Nossa rota para chegar à área norte de Sha’ab Shu’ayabah, que alcançamos após uma navegação noturna, é cercada por uma série de recifes espetaculares, como Marker 9, 10 e 11(os recifes são identificados por números para facilitar suas localização e orientação nas cartas náuticas para efeito de navegação).
Todos os mergulhos são caracterizados por paredes verticais cobertas com gorgônias e coloridos corais moles. A fauna é composta por cardumes de atum e outros peixes pelágicos como barracudas e cavalas, bem como tubarões cinza e martelo. Ocasionalmente, pode haver a presença de tubarões-tigre. Golfinhos e tartarugas, assim como arraias, também são comuns na região.
De Sha’ab Shu’ayabah navegamos para o sul para a zona de Sevem reef, onde mergulhamos em Marker 32, 34, 39, além de Abu Galawa, um dos melhores pontos na minha opinião. Os mergulhos são feitos seguindo os paredões ou em meio aos recifes mais rasos. Tubarões-martelo e tubarões silky são os reis do pedaço, mas a verdadeira surpresa é a riqueza destas paredes nas quais formações de corais mole são abundantes a ponto de forrar cada centímetro de pedra livre no recife. Os mergulhos no geral são profundos, caso o objetivo seja buscar grandes encontros, terminando em áreas mais rasas do recife onde verdadeiros aquários multicoloridos são formados. É impossível descrever o quão ambundante e rica é a fauna marinha da região. Ainda tivemos a oportunidade de explorar um naufrágio pouquíssimo visitado da região: o Iouna.
O naufrágio do Iouna
O Navio Construído na Escócia em 1885, este velho navio afundou em 1914 depois de uma colisão contra um recife de coral na costa de Yanbu. Ouvindo as histórias de antigos moradores e pescadores da região, descobrimos que é um navio britânico, que foi posteriormente comprado pelo exército alemão, no início da Primeira Guerra Mundial. O Iouna transportava uma carga de açúcar, além de 130 soldados. Sua história tem um lado sombrio e misterioso: como explicar um navio pertencente aos alemães estar navegando naquela região na época da Primeira Grande Guerra?
A região era amplamente patrulhada pelas tropas britânicas! Estranho e intrigante… Suposições e histórias de espionagem permeiam a imaginação de quem se atreve a pesquisar mais a fundo a história desse naufrágio, descoberto em 1980 por alguns funcionários de uma empresa de petróleo americana que ao fazer trabalhos em um gasoduto terminaram encontrando essa relíquia de guerra. O naufrágio do Iouna está a cerca de 20 minutos de barco do porto de Yanbu e é certamente um dos naufrágios mais interessantes na Arábia Saudita.
É uma viagem para quem tem espírito aventureiro e explorador, por se tratar de uma das pouquíssimas e inexploradas regiões do mundo que ainda podem ser desbravadas.
- Localização: recife Sherma (Yanbu)
- Distância da costa: 8 milhas
- Tipo de navio: transporte
- Nacionalidade: Turquia
- Estaleiro: Inglaterra
- Lançado: 1885
- Afundamento: 1914
- Motivo do naufrágio: colisão contra recife
- Comprimento: 130 metros
- Largura: 15 metros
- Tonelagem: desconhecida
- Propulsão: vapor
- Motores: desconhecido
- As hélices: 1-3 lâminas
- Mínima e máxima profundidade: 8 a 47 metros
- Visibilidade: boa a moderada
- Dificuldade: média
- Melhor período para o mergulho: de manhã